3.11.10

A criatura

E em um repente uma nova onda de melancolia me invade. É quando eu grito para meu lado surdo ouvir. É quando vejo minhas escolhas criando pele, pulmões e asas. É quando escuto a respiração afoita dos meus sonhos abafando o som do meu respirar.
E é nesse instante em que todas as janelas antes trancadas se abrem povoando meu mundo com um vento fresco, levantando as cortinas, varrendo as folhas velhas de árvores passadas.
E de repente recomeça a dolorosa vida: tudo o que me fez escolher já não existe mais. E a vida própria de minha escolha me assusta. Ela já respira, ela já caminha, ela já move as mãos e encaixota tudo que é meu. Posso ver suas veias verdes, seus olhos atentos, sua boca cheia de dentes, posso me enojar com seu sorriso sarcástico me avisando que é tarde.
Vejo minha criação e ela me assusta, ela me devora.


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2 comentários:

  1. Simples e profundo. Belas palavras, Angélica!

    Vou seguir o Malabares a partir de agora!

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"Se apenas houvesse uma única verdade, não poderiam pintar-se cem telas sobre o mesmo tema".

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