3.1.08



Preocupa-me o tempo que acreditei, que confessei, que reparti.
Dói ter caído em armadilha, como dói a um passarinho a arapuca. Não, não dói ter sido pega, presa, engaiolada. Dói ter acreditado, ter se iludido. Dói a vergonha de ter sido passarinho e não ter aproveitado pra voar.
Dói ter acreditado na surpresa da arapuca, sem saber que era arapuca. Dói não ter sabido.
Orgulho de passarinho ingênuo com asas cortadas.
Orgulho de quem sabe voar e agora não pode. Orgulho de quem errou e não pode admitir.
Assim, como quem cai na arapuca, como passarinho perdido e triste, assim que se aprende a rejeitar o humano; o podre lado humano.
Prefiro se passarinho em ilha deserta.

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"Se apenas houvesse uma única verdade, não poderiam pintar-se cem telas sobre o mesmo tema".

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